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Tropas norte-coreanas na Ucrânia reforçam linhas russas: por que a OTAN não responde ao envio de tropas aliadas da Rússia?

por Rafael Cavacchini Publicado em 19/12/2024 — Atualizado em 18/12/2024
Tropas norte-coreanas na Ucrânia reforçam linhas russas: por que a OTAN não responde ao envio de tropas aliadas da Rússia?

Aliados da Rússia enviam tropas à Ucrânia, mas isso não significa a entrada da OTAN no conflito

A recente notícia de que aliados da Rússia, como a Coreia do Norte, estão enviando tropas para apoiar Moscou na guerra na Ucrânia gerou debates sobre uma possível escalada do conflito com a entrada da OTAN. A pergunta que surge é: os aliados ocidentais da Ucrânia responderiam com o envio de tropas terrestres?

A resposta curta é: não.

De acordo com Roland Bartetzko, especialista em logística na Ucrânia, nenhum país ocidental estaria disposto a enviar suas tropas para lutar. Isso por conta das condições em que a Ucrânia combate atualmente, enfrentando uma quase total ausência de proteção aérea.

A necessidade de superioridade aérea para o envolvimento da OTAN

Antes de considerar o envio de forças terrestres, os países da OTAN teriam de garantir sobretudo superioridade aérea. Isso exigiria ações drásticas, como a destruição completa de bases aéreas russas. Não apenas dentro da Ucrânia fronteira, mas até mesmo em áreas próximas de Moscou. Além disso, seria necessária a eliminação das defesas aéreas e sistemas de mísseis russos que pudessem representar qualquer ameaça.

Exemplos históricos demonstram essa abordagem. Tanto na guerra aérea sobre Kosovo, em 1999, quanto na Operação Tempestade no Deserto, em 1991, os exércitos ocidentais só permitiram o avanço terrestre após garantirem segurança aérea total. Bartetzko destaca que nenhuma “bota” tocou solo inimigo até que houvesse condições seguras para isso.

O contraste entre a estratégia da OTAN e o envio de tropas norte-coreanas à Rússia

O envolvimento da Coreia do Norte na guerra, com a suposta mobilização de 12.000 soldados, é um cenário completamente diferente. Bartetzko afirma que esses soldados norte-coreanos não estão lá para vencer a guerra pela Rússia, mas sim para assegurar vantagens estratégicas para o regime de Pyongyang. Essas vantagens incluiriam comida, energia e tecnologia de mísseis fornecidas por Moscou.

Já a OTAN, caso optasse por intervir na Rússia, não adotaria uma abordagem limitada. A aliança ocidental só entraria na guerra caso pudesse garantir uma vitória rápida e decisiva. Um exemplo do poder aéreo ocidental pode ser observado na chamada “Rodovia da Morte” durante a Operação Tempestade no Deserto, onde forças terrestres só avançaram após o domínio aéreo.

A chamada “Rodovia da Morte” durante a Operação Tempestade no Deserto após ataque das forças de coalização.
A chamada “Rodovia da Morte” durante a Operação Tempestade no Deserto após ataque das forças de coalização. Foto: Departamento de Defesa dos EUA

A posição de Vladimir Putin

O envio de tropas norte-coreanas à Rússia reflete a tentativa de reforçar seu exército sem provocar diretamente uma reação do Ocidente e da OTAN. Putin está ciente de que uma participação ativa da OTAN, mesmo que limitada, poderia levar a uma derrota da Rússia em poucas semanas. Portanto, a decisão de Moscou de aceitar apoio de aliados como a Coreia do Norte demonstra que o Kremlin busca evitar uma escalada direta com o Ocidente.

Embora o envio de tropas norte-coreanas represente um reforço para os russos, não muda a dinâmica central do conflito. A OTAN continua evitando um envolvimento direto, enquanto a Rússia busca apoio de aliados para prolongar sua campanha na Ucrânia. A possibilidade de uma intervenção ocidental permanece condicionada a fatores estratégicos que garantam principalmente a segurança para suas tropas e resultados rápidos, evitando os erros de uma guerra prolongada.


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Rafael Cavacchini

Rafael Cavacchini

Nascido na cidade de Itu, interior de São Paulo, Rafael Cavacchini é empresário, radialista, jornalista e ator. Apaixonado por arte, é ator de teatros desde 2013, participando em peças que vão de tragédias clássicas a musicais. É também radialista no programa “A Kombi Desgovernada”, sucesso em três estações de rádio desde 2015. Começou a escrever muito cedo, inicialmente por hobby. Mas foi apenas em 2011 que transformou o prazer em profissão, quando entrou para o quadro de jornalistas convidados da Revista SuplementAção. Em 2015, tornou-se colunista no Portal Itu.com.br e, no mesmo ano, jornalista convidado da Revista Endorfina. Foi escritor e tradutor do Partner Program do site Quora, uma rede social de perguntas e respostas e um mercado de conhecimento online, com sede em Mountain View, Califórnia. Sua visibilidade no Quora chamou a atenção da equipe da Revista Sociedade Militar. Faz parte do quadro da RSM desde fevereiro de 2023, tendo escrito centenas de artigos e reportagens.