‘Privilégios? Vem pra Marinha’: enquanto vídeo institucional é rechaçado, Cabo Fuzileiro Naval expõe publicamente audiência disciplinar e viraliza no youtube

A Marinha do Brasil tem enfrentado uma semana turbulenta. Em meio à repercussão negativa do vídeo institucional da Marinha, que questiona a existência de “privilégios” para os militares, um novo caso veio à tona, expondo uma face menos glamourosa da instituição. Um cabo fuzileiro naval denunciou publicamente uma audiência disciplinar considerada injusta, na qual o comandante, que também atuava como juiz, o acusou de indisciplina após flagrá-lo filmando o uso de um veículo oficial para fins particulares.
O Cabo afirma contra seu superior: “É inadmissível que um comandante use em seu benefício bens públicos e ainda por cima se pretenda punir o denunciante”. O Cabo Tiago é acusado de infringir regras internas por filmar a garagem do 1º Batalhão de Operações Ribeirinhas e divulgar as imagens em seu canal do YouTube.
O vídeo que gerou a polêmica
A gravação publicada pelo Cabo Tiago tem 57 segundos e apresenta imagens da garagem da unidade militar. No vídeo, ele narra: “O comandante não pode. Isso aqui é o carro do comandante utilizando a garagem para limpar dentro do batalhão, utilizando o quartel para limpar o carro dele. Olha a situação que é aqui: utilizando o quartel, a garagem do quartel para encher pneu, para lavar o próprio carro”.
O material que primeiramente foi objeto da denúncia contra Tiago foi divulgado com o título “Garagem particular do senhor comandante do Primeiro Batalhão de Operações Ribeirinhas” (o vídeo está indisponível).
Em resposta, o comando da unidade abriu um processo disciplinar contra o Cabo, alegando que ele desrespeitou normas ao realizar e divulgar a filmagem sem autorização. Durante a audiência, o Cabo defendeu-se afirmando que seu objetivo era denunciar irregularidades, não desrespeitar a hierarquia.
Denúncias de abuso e irregularidades
Em sua fala durante o julgamento, o Cabo Tiago não poupou críticas ao sistema disciplinar da Marinha. “Porque está aparecendo várias partes de ocorrências depois que eu flagrei o carro do senhor comandante na garagem”, disse ele, insinuando uma retaliação por parte da cadeia de comando.
A audiência foi marcada por um clima de tensão, especialmente devido à acumulação de funções por parte do comandante do batalhão, que, além de ser apontado como beneficiário das irregularidades denunciadas, também atuou como juiz no caso.
“O comandante não pode. Isso aqui é o carro do comandante utilizando a garagem para limpar dentro do batalhão, utilizando o quartel para limpar o carro dele. Olha a situação que é aqui: utilizando o quartel, a garagem do quartel para encher pneu, para lavar o próprio carro”, disse o fuzileiro naval no vídeo.
O impacto do vídeo institucional
Enquanto isso, a Marinha também enfrenta uma onda de críticas devido à veiculação de um vídeo institucional que tenta rebater a ideia de privilégios dentro da corporação. O conteúdo foi amplamente rechaçado nas redes sociais, onde usuários apontaram que a realidade enfrentada por praças e oficiais subalternos está longe do retratado.
A Revista Sociedade Militar traz à tona que o vídeo recebeu mais de 1400 comentários, sendo 78% em tom de indignação.
A defesa do Cabo e os próximos passos
Em defesa do Cabo Tiago, há quem alegue, nos comentários dos vídeos da audiência, que ele exerceu um papel cívico ao denunciar irregularidades e que o processo disciplinar é uma tentativa de silenciá-lo. “Não se trata apenas de uma questão disciplinar, mas de transparência e responsabilidade no uso de bens públicos”, afirmou um internauta.
Por outro lado, há também internautas que argumentam que a ação do Cabo comprometeu a segurança da unidade, uma vez que filmagens não autorizadas em áreas militares são consideradas infrações graves.
A decisão do processo disciplinar ainda não foi divulgada, mas o caso, que tem sido divulgado semanalmente pelo cabo Tiago, já reacendeu debates sobre a relação entre hierarquia militar e direitos individuais. Há quem diga que o caso poderá ter repercussão no tratamento de denúncias de irregularidades dentro das Forças Armadas.