Revista Sociedade Militar, todos os direitos reservados.

O lado obscuro da vida militar: o impacto econômico e humano das guerras; o mercado lucrativo da Indústria Bélica

por Rafael Cavacchini Publicado em 30/12/2024
O lado obscuro da vida militar: o impacto econômico e humano das guerras; o mercado lucrativo da Indústria Bélica

Por trás das guerras, quem realmente lucra com os conflitos armados?

A vida militar sempre esteve envolta em uma aura de sacrifício, patriotismo e coragem. No entanto, há um lado obscuro nesse cenário, uma face que questiona os reais interesses por trás das guerras e dos conflitos.

Ao observar os custos de armamentos modernos e o papel das indústrias militares, algumas verdades incômodas emergem. Jovens soldados são enviados ao campo de batalha para operar equipamentos caríssimos e enfrentar a morte frente à frente, enquanto aqueles que lucram com a guerra permanecem em seus escritórios, longe do perigo.

O que vale mais? Um míssil ou um soldado?

Um exemplo que ilustra essa disparidade é o míssil Javelin, amplamente utilizado por tropas americanas em guerras recentes. O custo unitário de um míssil Javelin ultrapassa US$ 175.000,00. Já o salário anual de um soldado americano gira em torno de US$ 40.000,00.

Um Javelin disparado por um soldado dos EUA na Jordânia.
Um Javelin disparado por um soldado dos EUA na Jordânia. Foto: Divulgação / Exército dos Estados Unidos

Durante a invasão ao Afeganistão, unidades americanas estavam equipadas com esses mísseis, mesmo que os combatentes locais sequer possuíssem divisões blindadas significativas. Essa discrepância levanta a pergunta: por que tanto investimento em armas tão caras quando o inimigo está longe de ser uma ameaça tecnológica comparável?

Indústria da Guerra: quem são os verdadeiros beneficiários?

O lado mais perturbador e obscuro não está apenas nos custos elevados de equipamentos, mas na existência de complexos industriais-militares inteiros dedicados a lucrar com a guerra. Esses complexos, controlados por um pequeno grupo de magnatas e empresários, fazem fortunas enquanto os soldados enfrentam o perigo no campo de batalha.

Essas pessoas e suas famílias jamais pisarão em uma zona de combate. Para eles, a guerra é um negócio, não uma realidade. Quanto mais frequentes os conflitos, mais eles vendem – e mais lucram.

Os lucros dessas indústrias não vêm apenas da fabricação de armas, mas da constante inovação e necessidade de substituição. Granadas e morteiros já não são suficientes. O mercado exige armas de alto custo, como mísseis no valor de carros de luxo, que são usados contra inimigos equipados com armamentos antigos e desgastados.

O paradoxo é evidente: enquanto soldados arriscam suas vidas operando essas armas modernas, os alvos são, muitas vezes, equipamentos ultrapassados que poderiam ser neutralizados com armamentos muito mais simples e baratos.

O soldado e o lucro: uma questão moral

É inegável que os militares merecem o melhor equipamento possível para garantir sua segurança em combate. Mas a questão central é: qual o limite entre oferecer proteção aos soldados e explorar a guerra como um mercado lucrativo?

Para os soldados, o equipamento é uma ferramenta de sobrevivência. Para os vendedores, é apenas mais uma mercadoria. Essa diferença de interesses cria uma tensão moral difícil de ignorar.

Essa desconexão entre os interesses dos soldados e das indústrias bélicas reflete o lado mais sombrio da vida militar. No fim das contas, quem lucra com a guerra está mais interessado em garantir vendas do que em evitar conflitos.


Revista Sociedade Militar

Fontes:: Salaries of U.S. Army SoldiersMissile_Procurement_Army

Rafael Cavacchini

Rafael Cavacchini

Nascido na cidade de Itu, interior de São Paulo, Rafael Cavacchini é empresário, radialista, jornalista e ator. Apaixonado por arte, é ator de teatros desde 2013, participando em peças que vão de tragédias clássicas a musicais. É também radialista no programa “A Kombi Desgovernada”, sucesso em três estações de rádio desde 2015. Começou a escrever muito cedo, inicialmente por hobby. Mas foi apenas em 2011 que transformou o prazer em profissão, quando entrou para o quadro de jornalistas convidados da Revista SuplementAção. Em 2015, tornou-se colunista no Portal Itu.com.br e, no mesmo ano, jornalista convidado da Revista Endorfina. Foi escritor e tradutor do Partner Program do site Quora, uma rede social de perguntas e respostas e um mercado de conhecimento online, com sede em Mountain View, Califórnia. Sua visibilidade no Quora chamou a atenção da equipe da Revista Sociedade Militar. Faz parte do quadro da RSM desde fevereiro de 2023, tendo escrito centenas de artigos e reportagens.