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Militar brasileiro compete em dois Mundiais de Orientação, mas enfrenta desafios

por Rafael Cavacchini Publicado em 20/12/2024 — Atualizado em 19/12/2024
Militar brasileiro compete em dois Mundiais de Orientação, mas enfrenta desafios

Mais um militar brasileiro que se destaca no cenário internacional. O 3º Sargento Ariel Quim, de 29 anos, militar da 5ª Companhia de Polícia do Exército em Curitiba (PR), representou o Brasil em dois eventos internacionais de Orientação em 2024. Um feito digno de nota, mas que também escancara como o esporte sofre com a falta de estrutura e apoio por aqui.

Resultados sólidos, mas sacrifícios inevitáveis

Em outubro, Ariel participou do Campeonato Sul-Americano de Orientação, na Colômbia, conquistando um respeitável 2º lugar na prova Sprint. Não é a primeira vez que o sargento alcança esse resultado: ele repetiu o feito que já havia conseguido no Sul-Americano de 2022, disputado na Tríplice Fronteira.

Porém, nem tudo foi motivo de comemoração. Ariel teve que abrir mão de uma das provas do campeonato para embarcar rumo à Espanha, onde participou do 52º Campeonato Mundial Militar de Orientação. A correria e o cansaço foram inevitáveis, mas o esforço valeu a pena para ajudar a equipe brasileira a conquistar o 13º lugar no masculino e o 6º no feminino — os melhores resultados entre os países das Américas.

A realidade europeia versus a brasileira

Ao comparar sua experiência internacional, Ariel foi direto: competir na Europa é outro nível. “É um choque, porque o terreno é muito mais detalhado e a competitividade, muito maior”, comenta o sargento, relembrando sua estreia em mundiais, em 2015, na Noruega.

E não é só o nível técnico. A modalidade é incrivelmente prestigiada por lá. Na Espanha, o campeonato foi transmitido ao vivo na TV aberta, com narração, análise de mapas em tempo real e até comparativos detalhados entre os atletas. “É como assistir a um jogo de futebol aqui”, desabafa Ariel, visivelmente impressionado com o respeito que o esporte recebe fora do Brasil.

Enquanto isso, no Brasil, a orientação mal figura no radar do grande público, e os atletas precisam lutar para custear suas próprias viagens e treinos.

Falta de verba barra novos voos

O próximo desafio do militar Ariel seria o Campeonato Mundial de Orientação, na Escócia. Ele já tinha pontuação suficiente no ranking para competir, mas, como não é uma modalidade olímpica, os patrocínios e o apoio financeiro não apareceram. Resultado? Ele teve que deixar o sonho para depois.

“Essa competição ainda é um farol para mim, um objetivo que eu tenho”, explica Ariel, com aquele otimismo cansado de quem sabe que, no Brasil, esporte é sinônimo de batalha, seja contra adversários no campo ou contra a falta de recursos.

A reflexão que fica

A trajetória de Ariel Quim reflete um padrão no esporte brasileiro: talento, dedicação e resultados sólidos ofuscados pela falta de investimento e visibilidade. Enquanto na Europa a orientação é tratada como uma grande modalidade esportiva, no Brasil, o próprio militar é quem precisa carregar o fardo de manter seus sonhos vivos, às vezes às custas de grandes sacrifícios.

O sucesso de Ariel deveria ser motivo de orgulho nacional. Mas, cá entre nós, seria pedir demais que o esporte, mesmo fora do mainstream, tivesse um pouco mais de apoio institucional? Talvez não. Ou talvez seja só mais um reflexo do jeito brasileiro de improvisar.

Orientação esportiva: o brilho do militar brasileiro e a luta contra a falta de apoio.
Orientação esportiva: o brilho do militar brasileiro e a luta contra a falta de apoio. Foto: Divulgação / Exército Brasileiro

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Rafael Cavacchini

Rafael Cavacchini

Nascido na cidade de Itu, interior de São Paulo, Rafael Cavacchini é empresário, radialista, jornalista e ator. Apaixonado por arte, é ator de teatros desde 2013, participando em peças que vão de tragédias clássicas a musicais. É também radialista no programa “A Kombi Desgovernada”, sucesso em três estações de rádio desde 2015. Começou a escrever muito cedo, inicialmente por hobby. Mas foi apenas em 2011 que transformou o prazer em profissão, quando entrou para o quadro de jornalistas convidados da Revista SuplementAção. Em 2015, tornou-se colunista no Portal Itu.com.br e, no mesmo ano, jornalista convidado da Revista Endorfina. Foi escritor e tradutor do Partner Program do site Quora, uma rede social de perguntas e respostas e um mercado de conhecimento online, com sede em Mountain View, Califórnia. Sua visibilidade no Quora chamou a atenção da equipe da Revista Sociedade Militar. Faz parte do quadro da RSM desde fevereiro de 2023, tendo escrito centenas de artigos e reportagens.