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Marinha do Brasil: por que a gigante da tecnologia aérea ainda não tem uma referência como uma EMBRAER do Mar na indústria naval?

por Bassani Publicado em 14/12/2024
Marinha do Brasil: por que a gigante da tecnologia aérea ainda não tem uma referência como uma  EMBRAER do Mar na indústria naval?

A ausência de uma “Embraer do mar” no Brasil é reflexo de escolhas que priorizaram a importação de submarinos e fragatas pela Marinha em prejuízo do desenvolvimento de uma indústria naval estratégica. Apesar de o país possuir um histórico significativo de conquistas navais e uma sólida base industrial de defesa, faltaram políticas consistentes e incentivos estatais de investimento para consolidar uma gigante nacional no setor marítimo, como ocorreu no segmento aeronáutico com a Embraer.

A Embraer, criada em 1969 como estatal vinculada à Aeronáutica e privatizada em 1994, tornou-se uma referência global em alta tecnologia. A empresa lidera o segmento de jatos comerciais de até 150 assentos e também se destaca na área militar com projetos como o Super Tucano e o cargueiro KC-390.

Brasil reconhecido como uma potência naval, tanto em termos de Marinha quanto em relação à sua capacidade de produção

A Embraer é amplamente reconhecida como um exemplo de sucesso na construção de uma empresa nacional de alta tecnologia. Líder global em jatos comerciais e aeronaves de defesa, a companhia destaca-se no setor aeronáutico. Em contraste, o Brasil já teve uma indústria naval robusta, mas nunca conseguiu criar uma gigante marítima equivalente à Embraer.

No período do Império, a força naval brasileira chegou a ser a segunda mais poderosa do mundo, ficando atrás apenas da Inglaterra. Contudo, com o avanço da Revolução Industrial e a modernização das frotas internacionais, o país perdeu seu protagonismo no setor.

Falta de investimento mantém a Marinha do Brasil dependente de exportações

O cargueiro KC-390, desenvolvido inteiramente no Brasil, já foi adquirido por países como Portugal, Hungria, e Coreia do Sul, demonstrando o potencial de exportação de tecnologia nacional. No entanto, a realidade da Marinha do Brasil é diferente.

Embora a Marinha tenha sido uma potência marítima no século XIX e mantido uma indústria naval significativa até os anos 1980, as prioridades mudaram. A falta de continuidade em investimentos, aliada à dependência de importações, impediu o surgimento de uma gigante naval nos moldes da Embraer.

Desafios e caminhos para a indústria naval

A história recente da indústria naval brasileira é marcada por altos e baixos. Até 2014, o setor estava em expansão, mas foi paralisado durante governos posteriores, resultando na perda de empregos e na estagnação tecnológica.

Em um cenário promissor, iniciativas como o programa BNDES Azul, que oferece investimentos por meio de linhas de crédito específicas para o setor naval, destacam-se como impulsionadoras do crescimento. Essa retomada, combinada a projetos desenvolvidos em parceria com outros países, poderia abrir caminho para a criação de uma Embraer do Mar. Exemplos incluem o Prosub e as fragatas classe Tamandaré, desenvolvidas com a alemã Thyssenkrupp. Ainda assim, o foco da Marinha continua sendo atender suas próprias necessidades, sem um plano robusto de exportação de armamentos, algo que foi essencial para o sucesso da Embraer.

A oportunidade que ainda falta ser aproveitada na Marinha do Brasil

Para o Brasil se consolidar como um player global na indústria naval, é necessário aprender com o modelo da Embraer. A empresa encontrou sucesso ao atuar em nichos específicos e estratégicos, como jatos regionais e aeronaves de defesa. Da mesma forma, uma “Embraer do mar” poderia focar em tecnologias de ponta, como embarcações militares de médio porte, adaptadas para o mercado internacional.

Indústria de defesa com estratégias bem definidas transforma a capacidade naval

Faltam políticas de incentivo consistentes, reservas de mercado e uma visão estratégica que contemple tanto o mercado interno quanto externo. Sem esses elementos, a Marinha do Brasil continuará exportando sua capacidade intelectual em vez de produtos de alta tecnologia.

Se bem planejada, uma indústria naval forte poderia fortalecer a Base Industrial de Defesa e projetar o país como líder em inovação marítima. Afinal, como o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, destacou: “Um dos três países do mundo que constrói aviões deveria ser capaz de construir navios”.

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