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As Forças Armadas seguem no topo da confiança popular, apesar das polêmicas; críticas apontam para desgaste da imagem

por Rafael Cavacchini Publicado em 13/12/2024
As Forças Armadas seguem no topo da confiança popular, apesar das polêmicas; críticas apontam para desgaste da imagem

Pesquisa do IPESPE coloca Forças Armadas como instituição mais confiável do Brasil

Sabe aquelas pesquisas que mostram como os brasileiros enxergam suas instituições? Pois bem, o Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (IPESPE) acaba de divulgar mais um levantamento. Surpreendemente, as Forças Armadas lideram o ranking de confiança da população. Mas será que esse prestígio é tão sólido quanto parece?

Forças Armadas no topo

O estudo, com o título “A democracia que temos e a democracia que queremos”, entrevistou 3 mil pessoas, de todas as regiões do país, entre os dias 30 de novembro e 5 de dezembro. Os resultados apontam que 58% dos entrevistados confiam nas Forças Armadas. Isso coloca Exército, Marinha e Aeronáutica à frente de instituições como igrejas, imprensa, redes sociais e – não surpreendentemente – partidos políticos. Estes últimos costumam invariavelmente estar no fundo do poço em pesquisas desse tipo.

Exército, Marinha e Aeronáutica lideram confiança no Brasil: mérito ou falta de opção?
Exército, Marinha e Aeronáutica lideram confiança no Brasil: mérito ou falta de opção? Foto: Reprodução / Exército Brasileiro

Essa confiança é atribuída ao trabalho das Forças Armadas em prol do país. Atividades como apoio em desastres naturais, missões de paz internacionais e a logística em eleições são exemplos frequentemente citados para justificar essa percepção positiva.

O lado B da confiança

Por mais que esses números sejam impressionantes, não sobrevivem imunes a polêmicas. A credibilidade das Forças Armadas é um tema complexo, principalmente após os últimos anos, marcados por episódios que desgastaram sua imagem em certos setores da sociedade. A atuação de militares em cargos civis durante o governo Bolsonaro, por exemplo, gerou críticas sobre o possível envolvimento político da instituição. Trata-se de algo que, historicamente, as Forças Armadas tentaram evitar desde a redemocratização.

Além disso, surgiram acusações de que a presença militar em órgãos civis teria aumentado a ineficiência e dado margem para polêmicas, como os gastos excessivos com itens supérfluos. Isso levou muitos a questionarem se a confiança na instituição é mesmo homogênea ou se varia conforme o contexto e o público.

Mérito ou tradição?

Vale lembrar que a confiança nas Forças Armadas tem raízes históricas. Desde o fim do regime militar, a instituição conseguiu reconstruir sua imagem como um pilar de estabilidade, mantendo sobretudo certa distância da política. Mas será que isso é mérito exclusivo das Forças ou reflexo da falta de opções? Afinal, quando partidos políticos, redes sociais e até igrejas perdem espaço na opinião pública, as Forças Armadas acabam sendo vistas como um porto seguro – mesmo que nem todos concordem com essa percepção.

Esse não é o primeiro estudo a colocar as Forças Armadas no topo da confiança popular. Levantamentos de outros institutos já apontaram resultados semelhantes, reforçando a ideia de que a instituição ocupa um lugar especial no imaginário nacional. No entanto, as nuances das pesquisas muitas vezes são deixadas de lado: quem são esses 58% que confiam? Jovens, idosos, moradores de grandes centros urbanos ou do interior? E o mais importante: como a confiança muda diante de eventos específicos?

Seja por mérito, tradição ou falta de alternativas, as Forças Armadas continuam sendo um dos poucos pilares estáveis em um cenário institucional desgastado. A pergunta que fica é: essa confiança é suficiente para enfrentar os desafios de um Brasil cada vez mais polarizado?


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Rafael Cavacchini

Rafael Cavacchini

Nascido na cidade de Itu, interior de São Paulo, Rafael Cavacchini é empresário, radialista, jornalista e ator. Apaixonado por arte, é ator de teatros desde 2013, participando em peças que vão de tragédias clássicas a musicais. É também radialista no programa “A Kombi Desgovernada”, sucesso em três estações de rádio desde 2015. Começou a escrever muito cedo, inicialmente por hobby. Mas foi apenas em 2011 que transformou o prazer em profissão, quando entrou para o quadro de jornalistas convidados da Revista SuplementAção. Em 2015, tornou-se colunista no Portal Itu.com.br e, no mesmo ano, jornalista convidado da Revista Endorfina. Foi escritor e tradutor do Partner Program do site Quora, uma rede social de perguntas e respostas e um mercado de conhecimento online, com sede em Mountain View, Califórnia. Sua visibilidade no Quora chamou a atenção da equipe da Revista Sociedade Militar. Faz parte do quadro da RSM desde fevereiro de 2023, tendo escrito centenas de artigos e reportagens.