Arsenal de Guerra entrega novos morteiros ao Exército: uma vitória operacional ou paliativo estratégico?

Arsenal de Guerra do Rio entrega mais de 30 novos morteiros
Quando falamos em modernização militar no Brasil, geralmente imaginamos tecnologias de ponta, drones autônomos ou sistemas avançados de defesa. Mas aqui estamos, em 2024, comemorando a entrega de 33 novos morteiros de 81 mm e outros equipamentos revitalizados ao Exército Brasileiro, enquanto o resto do mundo investe em inteligência artificial e mísseis hipersônicos. É claro, cada entrega de armamento é importante, mas não dá para ignorar o contraste entre os discursos grandiosos e a realidade no chão.
Os números: mais do mesmo, mas com pintura nova
No dia 12 de dezembro, o Arsenal de Guerra do Rio (AGR) entregou:
- 33 morteiros 81 mm fabricados e 3 revitalizados;
- 1 morteiro 120 mm fabricado e 6 revitalizados;
- 5 kits de adaptação para transporte de morteiros na viatura Guarani;
- 2 equipamentos de rádio e intercomunicação;
- 27 equipamentos de visão noturna recuperados.

É um conjunto sem dúvida respeitável para quem entende a importância da logística militar. No entanto, dificilmente impressiona diante das demandas de uma força terrestre que precisa se adaptar a um cenário global em rápida transformação.
Novos morteiros do Exército: modernização ou remendo?
O Exército Brasileiro apresenta essas entregas como resultado de um “grande investimento do Alto Comando”, que inclui modernização de processos industriais e capacitação de pessoal. Mas, sejamos honestos: revitalizar morteiros que já estavam em uso ou adaptar veículos para transportar equipamentos que deveriam ser padrão há anos não é exatamente “modernização“.
Enquanto isso, países vizinhos como Colômbia e Chile avançam em sistemas mais modernos. As grandes potências regionais, como os EUA, focam em tecnologias que ainda estamos anos-luz de alcançar. Será que estamos realmente investindo no futuro ou apenas corrigindo o que deveria ter sido resolvido décadas atrás?
Indústria de Defesa: avanço estratégico ou discurso vazio?
O Arsenal de Guerra do Rio é uma organização bicentenária, símbolo do esforço industrial militar no Brasil. Porém, há anos especialistas apontam problemas crônicos na indústria de defesa nacional. Problemas recorrentes, por exemplo, são a falta de orçamento consistente, burocracia para aprovação de projetos e pouca integração com o setor privado.

As Forças Armadas precisam, sim, de investimentos constantes para manter sua capacidade operativa. No entanto, é impossível não perceber que estamos comemorando o básico enquanto o mundo avança em um ritmo cada vez mais acelerado.
O Arsenal de Guerra do Rio merece crédito por manter sua produção e revitalização dentro de padrões aceitáveis. Mas talvez seja hora de uma conversa mais honesta sobre nossas prioridades estratégicas. O Brasil, que se orgulha de sua posição geopolítica e territorial, não pode continuar apostando apenas em modernizações paliativas e entregas que, por mais úteis, representam pouco diante dos desafios do século XXI.