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A Companhia Anticarro Mecanizada: uma novidade no Exército com polêmicas e desafios pela frente

por Rafael Cavacchini Publicado em 20/12/2024 — Atualizado em 19/12/2024
A Companhia Anticarro Mecanizada: uma novidade no Exército com polêmicas e desafios pela frente

O Exército Brasileiro inaugurou nesta segunda-feira, 16 de dezembro, a 1ª Companhia Anticarro Mecanizada (1ª Cia AC Mec), em Osasco (SP). Trata-se sobretudo de um avanço estratégico e tecnológico. Mas, como quase tudo no Brasil, também levanta questionamentos sobre custos, prioridades e impactos reais.

O que é a Companhia Anticarro?

A 1ª Cia AC Mec fé uma unidade de alta mobilidade, capaz de se deslocar rapidamente para qualquer canto do país. A Companhia recebeu o que há de mais moderno: o míssil Spike LR2, importado, e o Max 1.2 AC, uma criação nacional que ainda está em evolução.

O Spike LR2 é puro “estado da arte”, de acordo com os militares. O míssil tem um alcance de 5,5 km e pode ser controlado manualmente ou com inteligência artificial. Já o Max 1.2 AC, com alcance de 2 km, promete um futuro brilhante, com versões que terão capacidade fire and forget. A mensagem aqui é clara: o Exército quer tecnologia de ponta para dissuadir qualquer ameaça.

Festa militar e discurso otimista

A inauguração contou com a presença do Comandante do Exército, General Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva, e de várias autoridades. O general fez questão de enaltecer a novidade. De acordo com o General, “estamos vendo o estado da arte, com um material de quinta geração, que é o míssil Spike, e um material de fabricação nacional, o míssil Max. São capacidades modernas que aumentam a possibilidade de cumprirmos nossas missões.”

Inovação militar no Brasil: os desafios da 1ª Companhia Anticarro Mecanizada.
Inovação militar no Brasil: os desafios da 1ª Companhia Anticarro Mecanizada. Foto: Divulgação / Exército Brasileiro

O discurso otimista foi reforçado pelo General Santiago César França Budó, comandante da 11ª Brigada de Infantaria Mecanizada: “Os militares pioneiros dessa unidade foram escolhidos como os mais aptos para essa missão. Essa iniciativa é um esforço contínuo do Exército em aprimorar sua capacidade operacional.”

Polêmicas e desafios por trás do projeto

Se no papel tudo parece grandioso, na prática há pontos que chamam a atenção. A 1ª Cia AC Mec é uma unidade composta por cerca de 150 militares profissionais, ou seja, sem conscritos, o que é positivo em termos de preparo, mas levanta a questão do custo. Treinamento especializado, aquisição de armamentos modernos e operação de veículos blindados não saem barato.

Além disso, o Exército enaltece o míssil Max 1.2 AC como um marco na autonomia tecnológica, mas o desenvolvimento desse armamento ainda está longe do ideal. Com alcance limitado e versões futuras prometidas, há o risco de dependermos do caro Spike LR2 por mais tempo do que seria desejável.

E há, claro, o custo político. Em um país onde saúde, educação e segurança pública enfrentam cortes e sucateamento, o investimento em equipamentos de ponta para o Exército inevitavelmente provoca debates. Não seria mais urgente direcionar recursos para outras áreas?

Sem dúvida, a inauguração da 1ª Companhia Anticarro Mecanizada é um marco importante para o Exército Brasileiro. No final das contas, a modernização é necessária, mas a pergunta que fica é: será que estamos avançando na direção certa ou apenas construindo uma defesa que, na prática, só funciona como propaganda?


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Rafael Cavacchini

Rafael Cavacchini

Nascido na cidade de Itu, interior de São Paulo, Rafael Cavacchini é empresário, radialista, jornalista e ator. Apaixonado por arte, é ator de teatros desde 2013, participando em peças que vão de tragédias clássicas a musicais. É também radialista no programa “A Kombi Desgovernada”, sucesso em três estações de rádio desde 2015. Começou a escrever muito cedo, inicialmente por hobby. Mas foi apenas em 2011 que transformou o prazer em profissão, quando entrou para o quadro de jornalistas convidados da Revista SuplementAção. Em 2015, tornou-se colunista no Portal Itu.com.br e, no mesmo ano, jornalista convidado da Revista Endorfina. Foi escritor e tradutor do Partner Program do site Quora, uma rede social de perguntas e respostas e um mercado de conhecimento online, com sede em Mountain View, Califórnia. Sua visibilidade no Quora chamou a atenção da equipe da Revista Sociedade Militar. Faz parte do quadro da RSM desde fevereiro de 2023, tendo escrito centenas de artigos e reportagens.