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Quem ganha e quem perde com a volta de Trump? Ucrânia, OTAN, Israel, China e o Exército dos EUA são impactados pela política ‘América Primeiro’ do republicano

por Noel Budeguer Publicado em 07/11/2024
Quem ganha e quem perde com a volta de Trump? Ucrânia, OTAN, Israel, China e o Exército dos EUA são impactados pela política ‘América Primeiro’ do republicano

A reeleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos em 2024 marca um novo capítulo na política global. O retorno do republicano à Casa Branca representa não apenas uma mudança nos rumos da política doméstica americana e do papel do exército dos EUA, mas também uma alteração significativa nas relações internacionais. Conhecido por seu estilo pragmático e direto, Trump promete uma postura que prioriza os interesses dos Estados Unidos e o fortalecimento do exército acima de alianças multilaterais, o que gera otimismo entre alguns setores e receio entre outros.

A política externa dos EUA: Pragmatismo ou Isolacionismo?

Durante seu primeiro mandato, Trump adotou uma política externa centrada em “América Primeiro”, criticando alianças consideradas “custosas” para os EUA. Esse retorno ao pragmatismo estratégico sugere que, novamente, os EUA podem reduzir seu envolvimento direto em conflitos e parcerias, esperando que outros países assumam maior responsabilidade por sua defesa.

Trump, por exemplo, já sinalizou uma revisão do papel dos Estados Unidos e de seu exército na OTAN. Ao instar países europeus a aumentarem seus investimentos em defesa, o novo governo busca diminuir a dependência da Europa em relação ao apoio militar americano, incentivando uma maior autonomia dos aliados. Essa postura pode fortalecer alianças regionais, mas também leva ao temor de uma retirada gradual do exército americano, o que pode criar um vácuo de poder que potências como a Rússia e a China tentariam preencher.

A questão da Ucrânia, o Exército e o alívio econômico americano

Desde o início da guerra entre Ucrânia e Rússia, os EUA, sob Joe Biden, foram um dos principais apoiadores da defesa ucraniana. Com a chegada de Trump ao poder, a perspectiva é de uma mudança importante: ele já afirmou que vê na negociação uma solução mais rápida e menos custosa para a crise. Trump acredita que prolongar o conflito traz custos elevados para os EUA, tanto em termos financeiros quanto em relação ao impacto econômico global, como a alta nos preços de energia.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que depende do apoio ocidental e do exército americano para resistir à invasão russa, pode ser um dos grandes perdedores com essa mudança. Por outro lado, o presidente russo, Vladimir Putin, que almeja expandir a influência da Rússia, se beneficiaria de uma postura americana mais negociadora e menos intervencionista. Essa abordagem reflete a preferência de Trump por soluções rápidas e menos onerosas para os EUA e seu exército, ainda que possam significar concessões territoriais na Ucrânia.

Oriente Médio: Israel como aliado incondicional, Exército dos EUA e pressão ao Irã

No Oriente Médio, Trump é conhecido por seu apoio inabalável a Israel. Ele acredita que a segurança de Israel é fundamental para a estabilidade regional, defendendo o uso de medidas militares firmes contra grupos como Hamas e Hezbollah. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, é certamente um dos grandes vencedores da nova política americana, com a promessa de continuar recebendo apoio militar e financeiro substancial, além de carta branca para adotar uma postura de segurança rigorosa.

Em relação ao Irã, Trump provavelmente retomará uma política de “dissuasão através da força”. Desde sua saída do acordo nuclear em 2018, ele implementou sanções rigorosas para enfraquecer a economia iraniana e impedir o avanço de seu programa nuclear. Para Trump, um Irã nuclear representa uma ameaça direta para Israel e seus aliados no Golfo Pérsico, e ele estaria disposto a apoiar ações preventivas, caso seja necessário, para impedir que Teerã desenvolva armamento nuclear.

Ásia e China: uma rivalidade econômica e estratégica

A postura de Trump frente à China é igualmente marcada pelo pragmatismo. Considerando a China como o maior rival econômico dos EUA, ele já sinalizou a possibilidade de aumentar as tarifas sobre produtos chineses, visando proteger a economia americana e diminuir o déficit comercial. Segundo ele, essas tarifas seriam não apenas uma estratégia de negociação, mas uma medida para fortalecer a produção interna e reduzir a dependência americana de produtos chineses.

Em relação a Taiwan, Trump propõe que a ilha também assuma uma parte maior dos custos de sua própria defesa, alinhando-se à sua visão de uma defesa americana mais justa e sustentável. Contudo, ele também promete apoiar a segurança de Taiwan, dada sua importância estratégica para conter a influência chinesa na região do Pacífico.

Os acordos de Abraão: um legado em expansão

Um ponto de destaque na política de Trump é o desejo de expandir os Acordos de Abraão, que normalizaram relações entre Israel e vários países árabes. Esses acordos, que representam uma rara cooperação entre nações árabes, Israel e o exército dos EUA, são vistos por Trump como um caminho para a paz e a estabilidade no Oriente Médio. Ele pretende ampliá-los, envolvendo outras nações árabes e incentivando-as a lutar junto ao exército americano contra o terrorismo e outras ameaças regionais.

Um novo papel para os Estados Unidos no cenário internacional

O retorno de Trump à presidência representa uma abordagem mais transacional e centrada nos interesses diretos dos EUA e no fortalecimento do exército americano, o que tende a dividir opiniões ao redor do mundo. Enquanto alguns países podem se beneficiar dessa postura pragmática, como Israel e até a Rússia, outros, como Ucrânia e Irã, podem enfrentar dificuldades em suas agendas políticas e de segurança diante de uma política americana mais focada em resultados tangíveis.

Seja uma política acertada ou não, a nova abordagem de Trump terá um impacto significativo nas relações globais e na geopolítica do século XXI.

Noel Budeguer

Noel Budeguer

Especialista em assuntos militares e geopolítica, trazendo análises profundas e notícias atualizadas sobre conflitos, estratégias e dinâmicas globais. Informação precisa e relevante para um público exigente.