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Polêmica em São Paulo: após pressão de movimentos negros, luminárias japonesas são substituídas na Liberdade

por Rafael Cavacchini Publicado em 22/11/2024
Polêmica em São Paulo: após pressão de movimentos negros, luminárias japonesas são substituídas na Liberdade

A substituição das tradicionais luminárias japonesas por postes de LED na Rua dos Aflitos, no bairro da Liberdade, em São Paulo, gerou um intenso debate nas redes sociais.

A mudança, promovida pela prefeitura, atendeu a pedidos de entidades do movimento negro. O objetivo seria integrar um projeto de valorização da memória afro-brasileira, mas acabou provocando críticas e acusações de apagamento cultural, principalmente nas redes sociais. Internautas chegaram a afirmar que a atitude de destruir as famosas luminárias japonesas, apagaria parte da memória do Japão da rua. Assim, os internautas enxergam o fato como um caso claro de racismo contra o povo japonês, ou nipofobia.

Rua dos Aflitos: história e controvérsia

Localizada no coração da Liberdade, a Rua dos Aflitos abriga a histórica Capela dos Aflitos. A capela foi construída em 1779 sobre um antigo cemitério destinado a escravizados, indígenas e indigentes. O local, que permaneceu por séculos como um espaço de memória esquecida, ganhou atenção em 2018, quando escavações revelaram ossadas datadas entre 1775 e 1858. A descoberta trouxe a tona e colocou em pauta o legado da escravidão no Brasil.

Luminária japonesa jaz caída no chão do bairro da Liberdade
Cultura em disputa: remoção de luminárias japonesas na Liberdade provoca debate sobre racismo e nipofobia. Foto: Reprodução / Internet

Reconhecida como patrimônio tombado desde 1978, a Capela dos Aflitos está em processo de transformação para abrigar o Memorial dos Aflitos. Portanto, a substituição das luminárias japonesas, conhecidas como Suzuranto, por postes de LED, foi justificada pela prefeitura como parte de um esforço para equilibrar as camadas culturais do bairro. O objetivo seria sobretudo dar maior visibilidade à história afro-brasileira.

Reações nas redes sociais

A decisão de substituir as luminárias japonesas tradicionais da rua gerou um intenso debate nas redes sociais. Usuários criticaram a medida, acusando a prefeitura de sucumbir à pressão do movimento negro. Além disso, há acusações de que a prefeitura esteja promovendo o que consideram um apagamento cultural da comunidade japonesa.

“Isso é um ataque à cultura japonesa que sempre foi símbolo do bairro da Liberdade. Quem ganha com essa divisão?”, questionou um internauta no X (antigo Twitter).

Outros defenderam a mudança, argumentando que a Rua dos Aflitos é um espaço singular. Assim, possui um significado histórico que vai além da tradição japonesa predominante no bairro.

“Finalmente a história negra está sendo reconhecida! Isso não apaga nada, apenas inclui quem sempre foi ignorado”, rebateu outro usuário.

A prefeitura defendeu a decisão em nota oficial, destacando que a mudança foi feita em consenso com associações locais. Além disso, observou que a ação visa preservar a pluralidade cultural do bairro:

De acordo com a prefeitura, “a troca das luminárias japonesas foi realizada com o objetivo de respeitar as diversas heranças culturais presentes na região, sem apagar nenhuma delas.”


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Rafael Cavacchini

Rafael Cavacchini

Nascido na cidade de Itu, interior de São Paulo, Rafael Cavacchini é empresário, radialista, jornalista e ator. Apaixonado por arte, é ator de teatros desde 2013, participando em peças que vão de tragédias clássicas a musicais. É também radialista no programa “A Kombi Desgovernada”, sucesso em três estações de rádio desde 2015. Começou a escrever muito cedo, inicialmente por hobby. Mas foi apenas em 2011 que transformou o prazer em profissão, quando entrou para o quadro de jornalistas convidados da Revista SuplementAção. Em 2015, tornou-se colunista no Portal Itu.com.br e, no mesmo ano, jornalista convidado da Revista Endorfina. Foi escritor e tradutor do Partner Program do site Quora, uma rede social de perguntas e respostas e um mercado de conhecimento online, com sede em Mountain View, Califórnia. Sua visibilidade no Quora chamou a atenção da equipe da Revista Sociedade Militar. Faz parte do quadro da RSM desde fevereiro de 2023, tendo escrito centenas de artigos e reportagens.