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O lado oculto do final da Segunda Guerra Mundial: por que os soldados nazistas preferiram morrer a se render?

por Rafael Cavacchini Publicado em 12/10/2024
O lado oculto do final da Segunda Guerra Mundial: por que os soldados nazistas preferiram morrer a se render?

Por que a Alemanha continuou lutando tão ferozmente contra os Aliados, mesmo sabendo que a derrota era inevitável?

Em 1944, já estava claro para muitos na Alemanha que a guerra estava perdida. Alguns acreditam que essa certeza já existia desde 1940. Contudo, diversos fatores contribuíram para que o esforço de guerra alemão se prolongasse de forma tão intensa, mesmo diante do avanço dos Aliados.

1. Medo de repressão interna

Para o soldado alemão comum, simplesmente desistir da luta não era uma opção. Qualquer tentativa de rendição individual ou deserção era considerada “Wehrkraftzersetzung“, ou deserção de combate. O fato resultaria em uma sentença de morte. Generais como Ferdinand Schörner reforçavam esse terror interno, executando mais soldados por covardia do que qualquer outro comandante alemão. Esse clima de medo tornava a ideia de desertar impensável para a maioria dos soldados.

O marechal de campo Ferninand Schörner acreditava que o medo de um soldado por seu comandante deveria ser maior do que seu medo do inimigo. Foto: Wikimedia Commons

2. Disciplina militar e esperança de reviravolta

Além do medo, havia sobretudo um forte senso de disciplina entre os soldados alemães. Muitos eram treinados para confiar nas decisões de seus oficiais e manter suas posições, independentemente da situação estratégica geral. Essa disciplina, aliada às experiências anteriores de vitórias e derrotas, criava uma crença entre alguns soldados de que a situação militar poderia se reverter, como já havia acontecido em anos anteriores.

3. Temor de repressão aliada

Outro fator importante era o medo das consequências da rendição. Os alemães haviam cometido inúmeros crimes durante a ocupação de países vizinhos. Portanto, os militares sabiam que não poderiam esperar misericórdia dos Aliados. Muitos temiam uma vingança brutal tanto contra eles quanto contra seus familiares. Por isso, continuar lutando era visto como uma maneira de adiar ou mitigar o pior resultado.

A Defesa Alemã de Berlim , 1945, por Oberst Wilhelm Willemer. Foto: Reprodução

4. Fanatismo e esperança nas “armas milagrosas”

Em alguns casos, o fanatismo e a crença cega no Führer e no Terceiro Reich também mantiveram alguns soldados lutando até o fim. A propaganda sobre as “wunderwaffen” (armas milagrosas), como os foguetes V-2, alimentava a esperança de que uma reviravolta milagrosa ainda era possível. Essa ilusão foi reforçada pelo uso dessas armas em 1944, o que deu a alguns soldados a falsa sensação de que ainda poderiam vencer.

Foguete V-2 decolando. A esperança nas chamadas “wunderwaffen”, ou “armas milagrosas”, durou até o fim sobretudo entre os militares alemães mais fanáticos. Foto: Reprodução

5. Sacrifícios em nome da retirada

Em outros casos, unidades alemãs continuaram lutando para ganhar tempo. O objetivo era sobretudo permitir que civis e soldados recuassem para zonas controladas pelos Aliados Ocidentais, e não pelos soviéticos. Lá, os alemães acreditavam que receberiam um tratamento mais justo.

No entanto, unidades como a SS Charlemagne, composta por colaboradores franceses, lutaram até o fim em Berlim em 1945. Não era por, contudo, por convicção na causa nazista, mas porque sabiam que não teriam chance de sobreviver se fossem capturados.

Múltiplas razões

No final, não houve uma única razão pela qual os alemães continuaram a lutar tão ferozmente. Cada soldado tinha suas próprias motivações, seja por medo, disciplina, esperança, fanatismo ou simplesmente para proteger suas famílias. O que ficou claro é que, para muitos, a rendição não era uma opção viável. Portanto, continuar lutando, mesmo diante da derrota iminente, parecia a única escolha possível.

Generais Otto Freter Pico e Mario Carloni se rendendo à Força Expedicionária Brasileira, após a Batalha de Fornovo di Taro, 1945. Foto: Exército Brasileiro / Divulgação

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Rafael Cavacchini

Rafael Cavacchini

Nascido na cidade de Itu, interior de São Paulo, Rafael Cavacchini é empresário, radialista, jornalista e ator. Apaixonado por arte, é ator de teatros desde 2013, participando em peças que vão de tragédias clássicas a musicais. É também radialista no programa “A Kombi Desgovernada”, sucesso em três estações de rádio desde 2015. Começou a escrever muito cedo, inicialmente por hobby. Mas foi apenas em 2011 que transformou o prazer em profissão, quando entrou para o quadro de jornalistas convidados da Revista SuplementAção. Em 2015, tornou-se colunista no Portal Itu.com.br e, no mesmo ano, jornalista convidado da Revista Endorfina. Foi escritor e tradutor do Partner Program do site Quora, uma rede social de perguntas e respostas e um mercado de conhecimento online, com sede em Mountain View, Califórnia. Sua visibilidade no Quora chamou a atenção da equipe da Revista Sociedade Militar. Faz parte do quadro da RSM desde fevereiro de 2023, tendo escrito centenas de artigos e reportagens.