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A polêmica do termo “Melancia”: críticas às Forças Armadas e a polarização política

por Rafael Cavacchini Publicado em 29/10/2024
A polêmica do termo “Melancia”: críticas às Forças Armadas e a polarização política

O uso do termo “melancia” como referência pejorativa a militares brasileiros, especialmente generais do Exército, ganhou destaque nas discussões políticas recentes. Essa expressão, que se tornou popular em momentos de polarização política, levanta questões sobre a relação entre os militares e as ideologias políticas no Brasil contemporâneo. O debate não se limita apenas à linguagem, mas também às percepções sobre o papel das Forças Armadas em um cenário de intensa divisão política.

A ORIGEM DO TERMO E SUAS IMPLICAÇÕES

O termo “melancia” é utilizado para descrever uma dualidade que se insinua entre a aparência e a essência, uma vez que a fruta é verde por fora e vermelha por dentro. De acordo com o ex-comentarista da Jovem Pan Paulo Figueiredo Filho, o uso do termo foi direcionado ao General Soares, então Comandante Militar do Sul. O termo é interpretado como uma crítica à suposta falta de neutralidade política dos militares, insinuando que, apesar de seus uniformes verdes, poderiam estar alinhados ideologicamente com o comunismo. O verde, portanto, seria os uniformes do lado de fora, mas o vermelho, insinuando comunismo, seria a verdadeira cor dos militares.

Postagem com o comentário do Paulo Figueiredo Filho utiliza o termo “melancia” para se referir ao General Soares, à época, Comandante Militar do Sul. Foto: Twitter / X / Reprodução

A associação entre a cor da casca da melancia e os uniformes militares serve como um insulto que sugere que, por trás da fachada de uma instituição apartidária, estariam escondidas convicções políticas que não correspondem à imagem pública que as Forças Armadas pretendem transmitir. O ex-presidente Jair Bolsonaro também utilizou essa expressão em suas críticas, destacando que a questão se torna ainda mais complexa quando figuras políticas de destaque adotam essa terminologia para deslegitimar certos militares.

A RELEVÂNCIA POLÍTICA DO DISCURSO

O uso de termos como “melancia” reflete sobretudo um clima de tensão e desconfiança em relação às Forças Armadas, especialmente após a ascensão do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A polarização política no Brasil, que se intensificou nas últimas eleições, faz com que a sociedade busque símbolos que representem as disputas ideológicas. Nesse contexto, o termo “melancia” se transforma principalmente em uma ferramenta de retórica, permitindo que políticos e comentaristas questionem a fidelidade dos militares aos princípios democráticos.

O general Soares, alvo do insulto, representa uma das vozes dentro de uma estrutura militar que busca reafirmar sua neutralidade política. A ascensão de líderes que buscam desestabilizar essa narrativa, utilizando termos depreciativos, pode ter um impacto significativo na percepção pública das Forças Armadas e na coesão interna da instituição.

A POLARIZAÇÃO E SUAS CONSEQUÊNCIAS

A polarização política no Brasil não é um fenômeno novo, mas sua manifestação através de insultos como “melancia” revela a profundidade das divisões atuais. O que era uma simples referência a uma fruta, agora se transforma em uma questão que afeta a reputação e a integridade das Forças Armadas. O uso do termo levanta, portanto, preocupações sobre a independência da Força em um ambiente político tumultuado.

As Forças Armadas, tradicionalmente vistas como garantidoras da ordem e da segurança nacional, enfrentam um desafio crescente para manter sua imagem como uma instituição apartidária. A utilização de expressões pejorativas pode influenciar a opinião pública, levando a uma desconfiança que pode afetar a coesão entre militares e a sociedade civil.

O PAPEL DOS MILITARES NO BRASIL CONTEMPORÂNEO

O debate em torno do uso do termo “melancia” destaca não apenas a complexidade das relações entre política e militarismo, mas também o papel que as Forças Armadas desempenham na sociedade brasileira contemporânea. À medida que o Brasil enfrenta uma série de desafios, a expectativa sobre como os militares irão se posicionar pode determinar o futuro do país.

A utilização de uma linguagem carregada de simbolismo e insinuação não é apenas uma estratégia retórica. Trata-se, também, de uma maneira de moldar a narrativa sobre o que significa ser militar em um Brasil polarizado. As Forças Armadas precisam enfrentar essas questões de frente, reafirmando seu compromisso com a democracia e a imparcialidade.

Em um ambiente político tão polarizado, a urgência de um discurso que promova a união e o entendimento é mais importante do que nunca.


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Rafael Cavacchini

Rafael Cavacchini

Nascido na cidade de Itu, interior de São Paulo, Rafael Cavacchini é empresário, radialista, jornalista e ator. Apaixonado por arte, é ator de teatros desde 2013, participando em peças que vão de tragédias clássicas a musicais. É também radialista no programa “A Kombi Desgovernada”, sucesso em três estações de rádio desde 2015. Começou a escrever muito cedo, inicialmente por hobby. Mas foi apenas em 2011 que transformou o prazer em profissão, quando entrou para o quadro de jornalistas convidados da Revista SuplementAção. Em 2015, tornou-se colunista no Portal Itu.com.br e, no mesmo ano, jornalista convidado da Revista Endorfina. Foi escritor e tradutor do Partner Program do site Quora, uma rede social de perguntas e respostas e um mercado de conhecimento online, com sede em Mountain View, Califórnia. Sua visibilidade no Quora chamou a atenção da equipe da Revista Sociedade Militar. Faz parte do quadro da RSM desde fevereiro de 2023, tendo escrito centenas de artigos e reportagens.