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Taiwan e a estratégia do Porco-Espinho: Como a ilha planeja repelir um devastador ataque da China com táticas assimétricas e armas de baixo custo

por Jefferson S Publicado em 03/07/2024
Taiwan e a estratégia do Porco-Espinho: Como a ilha planeja repelir um devastador ataque da China com táticas assimétricas e armas de baixo custo

As tensões entre Taiwan e China aumentam a cada dia. A China, fortemente armada e preparada para invadir Taiwan, busca retomar o controle da ilha, considerada por Pequim uma província rebelde. Em resposta, Taiwan está desenvolvendo estratégias inovadoras para impedir os planos chineses, adotando táticas assimétricas e armas móveis, conhecidas como a “Estratégia do Porco-Espinho”. Este artigo explora como Taiwan planeja resistir a uma invasão chinesa em grande escala.

O Contexto Geopolítico

O Estreito de Taiwan, uma faixa de 130 km que separa a China continental de Taiwan, é um ponto de tensão constante. Embora Taiwan tenha um governo próprio, a China reivindica soberania sobre a ilha. Historicamente, Pequim buscou uma reunificação pacífica, mas a impaciência crescente leva a considerar uma invasão militar.

Se a China decidir invadir, a batalha será desigual. Taiwan, com 23 milhões de habitantes e 200.000 soldados, enfrenta uma China com 1,4 bilhão de habitantes e 2 milhões de soldados. O orçamento militar taiwanês de 20 bilhões de dólares é uma fração dos 290 bilhões da China. Apesar disso, Taiwan possui uma estratégia defensiva bem estruturada.

A Estratégia do Porco-Espinho

Desde 2013, Taiwan adotou a Estratégia do Porco-Espinho, orientada por estrategistas norte-americanos. Em vez de investir em equipamentos grandes e caros, como caças e submarinos, Taiwan compra armas pequenas, baratas e móveis, como mísseis antiaéreos portáteis, drones, mísseis antinavio e minas. A ideia é tornar-se uma presa difícil de engolir.

Na primeira etapa de uma invasão, as forças chinesas enfrentariam uma chuva de mísseis. As 14 praias propícias ao desembarque estariam sob pesada artilharia e possivelmente incendiadas, dificultando o avanço chinês. Em seguida, uma guerra urbana e assimétrica, onde as armas móveis são mais eficazes, desgastaria as forças invasoras.

A Geografia a Favor de Taiwan

A geografia de Taiwan também favorece sua defesa. A ilha é repleta de montanhas, dividindo-a em duas partes. Na parte ocidental, onde a invasão provavelmente ocorreria, a resistência seria feroz. A parte oriental, protegida pelas montanhas, abriga bases militares essenciais para reabastecimento e coordenação.

Bunkers escavados nas montanhas abrigam caças e mísseis anavi, peças-chave para a defesa. Taiwan espera receber ajuda de aliados como Estados Unidos, Japão e União Europeia por este lado. Contudo, a maior marinha militar do mundo, a chinesa, poderia realizar bloqueios navais, dificultando a chegada de ajuda externa.

A Dependência de Alianças e o Papel dos Semicondutores

Taiwan conta com seus aliados, especialmente os Estados Unidos, mas não há garantias de defesa em caso de ataque. A falta de um acordo formal deixa Taiwan potencialmente isolada. No entanto, a ilha possui um trunfo: a TSMC, maior fabricante de semicondutores do planeta, fundamental para a indústria global.

Qualquer interrupção na produção de semicondutores afetaria a economia mundial, com prejuízos estimados em 2,5 trilhões de dólares por ano. A própria economia chinesa seria impactada, tornando um ataque à ilha economicamente desastroso.

A Estratégia de Última Instância: A Barragem das Três Gargantas

Taiwan possui uma última estratégia que pode causar danos devastadores à China: atacar a Barragem das Três Gargantas. Localizada a 1.250 km de Taipei, a barragem é a maior usina hidrelétrica do mundo. Um ataque bem-sucedido despejaria 40 km³ de água, causando inundações em grandes centros populacionais e industriais.

Embora essa estratégia seja arriscada e potencialmente catastrófica para Taiwan, a possibilidade de tamanha destruição pode dissuadir a China. No entanto, a viabilidade desse ataque é incerta, dado o robusto sistema de defesa chinês.

Conclusão: A Defesa de Taiwan e o Equilíbrio Global

Taiwan enfrenta uma ameaça existencial, mas sua Estratégia do Porco-Espinho e sua geografia proporcionam uma defesa robusta. A ilha depende de alianças e de seu papel crucial na produção de semicondutores para manter a paz. Apesar das incertezas, Taiwan não desistirá facilmente, e qualquer conflito terá consequências globais significativas.

Jefferson S

Jefferson S

Ex-militar das Forças Armadas com experiência em Gestão do Conhecimento e Inteligência Competitiva (Sebrae-RJ) e certificado como especialista de investimentos pela ANCORD, tendo atuado nos maiores escritórios da XP investimentos. Analiso e produzo conteúdos para a internet desde 2025, meu primeiro blog foi o "bizu de militar", onde passava dicas para os recrutas no Exército. Atuo na Sociedade Militar trazendo análises e conteúdos relacionados a Geopolítica, Tecnologia militar, Industria de Defesa e Inteligência Artificial.