• Por Juliana Ferraz, pesquisadora do NUPREM e cursando Relações Internacionais pelo IBMR 

No domingo, 19 de maio, o presidente iraniano Ebrahim Raisi, de 63 anos, faleceu em um acidente de helicóptero junto com outras oito pessoas, conforme reportado pela mídia estatal iraniana à imprensa internacional.

O acidente ocorreu durante uma tentativa de pouso forçado em uma região montanhosa e florestal chamada Dizmar, no condado de Khoda Afarin, na fronteira com o Azerbaijão.

Raisi estava retornando de uma viagem de trabalho à cidade de Tabriz, no noroeste do Irã, acompanhado por figuras notáveis como Malek Rahmati, governador geral da província do Azerbaijão Oriental; Hossein Amir-Abddollahian, Ministro das Relações Exteriores do Irã; e Hojjatoleslam Al Hashem, líder religioso.

A Religião no Poder

Diferente do Ocidente, o Irã é atualmente governado por um líder supremo, o aiatolá Sayyid Ali Hosseini Khamenei, de 85 anos. O termo “aiatolá” significa “sinais de Alá” e refere-se à interpretação xiita do Alcorão, que sugere que o sucessor da autoridade islâmica do profeta Maomé deve ser um descendente de sua família, diferentemente da interpretação sunita.

Essas divergências são uma das principais causas dos conflitos no Oriente Médio até os dias atuais. Portanto, o Irã é uma república teocrática islâmica onde o aiatolá detém poderes em todas as esferas, enquanto o presidente executa as decisões e cuida de questões governamentais.

A posse do vice-presidente Mohammad Mokhber e a eleição marcada para 28 de junho não devem trazer instabilidades à política interna e externa do país, mas a morte de Ebrahim Raisi é significativa, pois ele estava sendo preparado para substituir eventualmente o aiatolá Ali Khamenei, criando assim uma disputa pela sucessão.

Geopolítica e a História Nacional Iraniana

Desde a descoberta de petróleo na antiga Pérsia em 1901 por William Knox D’Arcy, o Irã tem vivido sob tensão com o Ocidente. A Convenção Anglo-Russa de 1907 e a subsequente ocupação de territórios na Ásia Central pelos impérios britânico e russo exacerbaram essas tensões.

A nacionalização da Companhia Petrolífera Anglo-iraniana em 1951 por Mohammad Mossadegh, durante a Guerra Fria, levou a um golpe de Estado apoiado pelos Estados Unidos, consolidando um regime autoritário sob o xá Reza Pahlevi.

O Presidente e as Oposições

O helicóptero que transportava Ebrahim Raisi foi encontrado carbonizado, após o piloto tentar um pouso forçado em condições adversas.

Isso levantou suspeitas internacionais de um possível atentado, tanto interno quanto externo, intensificadas pelas tensões diplomáticas relacionadas ao apoio do Irã ao grupo radical Hamas e os recentes bombardeios de Israel ao consulado iraniano na Síria. Raisi, desde sua eleição em 2021, enfrentava desaprovação popular, principalmente entre os jovens, e participava de controvérsias como o “comitê da morte” durante a Revolução Iraniana.

A investigação sobre o acidente foi descartada pelo aiatolá iraniano, alegando que os helicópteros fabricados pelos EUA, como muitos outros transportes militares iranianos, são antigos e não receberam manutenção adequada devido aos embargos sofridos pelo país.