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Pearl Harbor: Desvendando Mitos e Revelando Estratégias Ocultas do Ataque Japonês

por Rafael Cavacchini Publicado em 25/03/2024
Pearl Harbor: Desvendando Mitos e Revelando Estratégias Ocultas do Ataque Japonês

No alvorecer de 7 de dezembro de 1941, um ataque surpresa orquestrado pela Marinha Imperial Japonesa contra a base naval dos Estados Unidos em Pearl Harbor, no Havaí, alterou irrevogavelmente o curso da Segunda Guerra Mundial. O ataque não apenas moldou todo o futuro da guerra, como também o mundo como é hoje.

Foto tirada de um avião japonês durante o ataque à Pearl Harbor. Foto: US Navy

Este assalto audacioso, que visava incapacitar a frota do Pacífico dos EUA e assim garantir a supremacia japonesa na Ásia e no Pacífico, resultou em um devastador saldo de navios afundados ou danificados, além de milhares de vidas perdidas. Através deste ato de agressão sem precedentes, os Estados Unidos foram impelidos para a guerra, marcando um ponto de virada não apenas para o país, mas para o mundo inteiro.

No entanto, o evento é cercado de mitos. Dois, em particular, parecem ter um poder real de permanência até hoje.

1. A suposta “sorte” dos EUA de não estarem com seus porta-aviões em Pearl Harbor no dia do ataque

Enquanto o ataque a base naval seguia devastador, no entanto, havia uma circunstância fortuita para os Estados Unidos: seus porta-aviões, peças-chave no xadrez naval do Pacífico, encontravam-se inexplicavelmente fora do alcance do fogo inimigo. Este detalhe, que à primeira vista poderia ser interpretado como um mero acaso, era, na verdade, o exato oposto. 

O ataque, que visava neutralizar a frota americana e garantir a supremacia japonesa no Pacífico, paradoxalmente, poupou os ativos mais dinâmicos e estratégicos dos EUA, permitindo uma recuperação mais rápida e uma ofensiva efetiva nos anos seguintes.

A verdade é que havia poucas probabilidades de um porta-aviões dos EUA estar em Pearl Harbor em 1941. Era raro ter um no porto e mais raro ainda dois estarem lá.

Em 1941, os EUA tinham 7 porta-aviões. Desses, dois operavam em Pearl Harbor. No entanto, Pearl Harbor não era o seu porto de origem, mas sim, San Diego.

Então, por que seria “raro” ter um porta-aviões em Pearl Harbor?

A verdade é que Pearl Harbor em 1941 não era uma das principais bases da Marinha dos EUA. De fato, era relativamente pequena e rasa, comparado a outras bases mais importantes. Assim, quando um dos porta-aviões do pré-guerra entrava em Pearl Harbor para reabastecer, criava muitos problemas de tráfego e diversas dores de cabeça.

A realidade era que esses navios entravam e saíam de Pearl Harbor o mais rápido possível. Se algum dos porta-aviões precisasse de uma estadia mais longa no porto, retornaria para San Diego, evitando Pearl Harbor. Eram, afinal, eram grandes demais para as instalações da base havaiana.

O USS Enterprise chegaria a Pearl Harbor em busca de combustível e suprimentos apenas na noite de 8 de dezembro, 1 dia após o ataque. Foto: Divulgação / US Navy

Devido a esses problemas de tráfego e espaço, os porta-aviões eram programados para entrar e sair rapidamente, para evitar que ambos precisassem reabastecer ao mesmo tempo. Portanto, os navios trabalhavam em um horário rotativo que efetivamente significava que apenas um se encontraria no porto em determinado momento. No final, ambos estariam ausentes na maior parte do tempo.

Seria, então, improvável que num determinado dia qualquer um único porta-aviões estivesse lá. Os japoneses, por sua vez, sabiam que era improvável que encontrassem um porta-aviões no porto quando decidiram iniciar o ataque. Seria, sim, uma situação excelente, mas não esperada. O plano principal o tempo todo era atacar os demais navios de guerra.

Portanto, não foi “sorte”: era, na verdade, contra todas as probabilidades que um porta-aviões estivesse em Pearl Harbor a espera de um ataque.

2 – Os japoneses não elaboraram um plano “original” de ataque

O ataque japonês a Pearl Harbor seguiu um plano muito meticuloso. Ironicamente, contudo, a tática de ataque que os japoneses usaram seguiu muito fielmente um plano criado e executado por um almirante da própria Marinha dos EUA nove anos antes.

O primeiro plano de ataque a Pearl Harbor e o ataque subsequente ocorreram, na verdade, no dia 7 de fevereiro de 1932. Na ocasião, o contra-almirante Harry Yarnell foi designado para o comando das forças “agressoras” nos exercícios anuais da Frota do Pacífico. Durante a simulação, foram planejados ataques às instalações dos EUA em Pearl Harbor.

A abordagem padrão em 1930 era que os agressores enviassem seus navios de guerra apoiados por porta-aviões, cruzadores e destróieres. E os navios de guerra fariam o combate principal.

Mas para este exercício, Yarnell, um dos poucos crentes no poder da aviação naval, decidiu “não seguir o roteiro” como era costume. Yarnell levou sua frota para o mar, mas ordenou que seus navios de guerra e cruzadores permanecessem no mar e manobrassem na costa da Califórnia.

Yarnell então pegou seus dois porta-aviões com os destróieres e se escondeu atrás de uma série de tempestade para cobrir seu movimento em direção ao Havaí. A tempestade protegeu seus navios das aeronaves “inimigas”. Além disso, Yarnell viajou em total silêncio no rádio.

Seu plano previa que seus navios emergissem da tempestade na manhã de domingo, 7 de fevereiro, a noroeste de Oahu. A partir desta posição, Yarnell enviou suas aeronaves para o leste. Posteriormente, fez com que manobrassem para que chegassem à Pearl Harbor com o sol atrás de si. Assim, atacaram o ancoradouro e os campos de aviação sem serem notados.

Yarnell escolheu o domingo porque esperava pegar a frota despreparada e cochilando no que era um “dia de folga”.

Uma surpresa completa

Apesar da Marinha e do Exército saberem que um exercício estava em andamento, seu plano funcionou perfeitamente. Usando sacos de farinha como bombas, os agressores conseguiram desativar completamente os campos de aviação e afundar todos os navios de guerra no porto. O ataque foi uma surpresa completa e um sucesso esmagador. Os árbitros concederam às forças de Yarnell uma vitória total e declararam o ataque totalmente bem-sucedido. Os navios afundaram e o campo de aviação foi completamente desativado.

Mais tarde, altas patentes do Exército e da Marinha queixaram-se de que Yarnell tinha “trapaceado” e que era “injusto” e “inadequado” ter atacado na manhã de domingo, tanto que o resultado foi revertido. Mas enquanto as altas patentes do Exército e da Marinha se queixavam, outros parecem ter visto os resultados com outros olhos.

O USS West Virginia afundou após ter sido atingido por 6 torpedos e duas bombas durante o ataque japonês. Foto: Divulgação / US Navy

8 anos e 10 meses depois, os japoneses seguiram uma tempestade até a ilha havaiana e, numa manhã de domingo, emergiram da tempestade para enviar seus aviões a leste de Oahu para atacar com o sol às suas costas, contra os campos de aviação e o porto. E seguindo precisamente o plano de Yarnell, os japoneses alcançaram um sucesso completo e esmagador.


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Rafael Cavacchini

Rafael Cavacchini

Nascido na cidade de Itu, interior de São Paulo, Rafael Cavacchini é empresário, radialista, jornalista e ator. Apaixonado por arte, é ator de teatros desde 2013, participando em peças que vão de tragédias clássicas a musicais. É também radialista no programa “A Kombi Desgovernada”, sucesso em três estações de rádio desde 2015. Começou a escrever muito cedo, inicialmente por hobby. Mas foi apenas em 2011 que transformou o prazer em profissão, quando entrou para o quadro de jornalistas convidados da Revista SuplementAção. Em 2015, tornou-se colunista no Portal Itu.com.br e, no mesmo ano, jornalista convidado da Revista Endorfina. Foi escritor e tradutor do Partner Program do site Quora, uma rede social de perguntas e respostas e um mercado de conhecimento online, com sede em Mountain View, Califórnia. Sua visibilidade no Quora chamou a atenção da equipe da Revista Sociedade Militar. Faz parte do quadro da RSM desde fevereiro de 2023, tendo escrito centenas de artigos e reportagens.