Presidente do STM condena mistura de militares e política: General Pazuello é exemplo negativo na visão do militar

O presidente do Superior Tribunal Militar (STM), Francisco Joseli Parente Camelo, afirmou em entrevista à Agência Pública, publicada nesta segunda-feira, 22 de janeiro, que a mistura de militares e política é prejudicial à democracia e pode levar a situações em que fica difícil definir se um militar está cometendo um crime ou uma indisciplina. Camelo usou como exemplo negativo o caso emblemático do ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, durante o governo de Jair Bolsonaro.
Camelo, que também é tenente-brigadeiro da Aeronáutica, citou o exemplo do general Eduardo Pazuello como um caso a não ser seguido. Pazuello, que era militar da ativa, foi acusado de ter cometido crimes e indisciplinas ao participar de atos políticos e defender o governo Bolsonaro durante a pandemia de covid-19.
“O caso do Pazuello é emblemático”, disse Camelo. “Ele era um militar da ativa mas estava em cargo político, e as coisas se misturam um pouco. Fica difícil você definir até que ponto ele está cometendo um crime, uma indisciplina, se ele é político ou militar. Uma hora ele respondia como militar, outra como político. Surgiu a dúvida, ele estando em um comício [de Bolsonaro], mas ele também era ministro, era assessor do presidente.”
“É uma situação que fica difícil você dizer se ele está errado ou certo, se deve ou não ser condenado. Criou-se essa ‘simbiose’, havia um limiar, algo que não ficava muito claro. Por isso que não é bom que o militar esteja na política, como todos nós estamos defendendo a essa altura do jogo”, disse.

Em outro momento polêmico, o ministro afirmou ainda que a Constituição Federal determina que as Forças Armadas são subordinadas ao poder civil e que, por isso, os militares não devem se envolver em atividades políticas.
“O militar tem que estar preparado para defender a pátria, para garantir os poderes constitucionais. Se as nossas Forças Armadas se desorganizam, elas perdem a capacidade e a competência de defender a pátria, o que põe em risco a soberania do Estado e a estabilidade da ordem democrática”, disse.
O presidente do STM disse que o fato de o governo Bolsonaro ter promovido a mistura de militares e política foi um erro que deve ser evitado no futuro.
“Nós vimos que isso não é saudável”, disse. “Não é só a sociedade brasileira que não aceita mais isso: o mundo não aceita mais aventuras de ditadura. Nenhum órgão multilateral aceita isso. Mas o ensinamento maior é esse: olha, vamos lá, cada um no seu ‘quadrado'”, concluiu.
Fonte: Agência Pública