Revista Sociedade Militar, todos os direitos reservados.

Reviravolta! Símbolo do regime militar, DOI-CODI terá memorial às vítimas

por JB Reis Publicado em 05/12/2023
Reviravolta! Símbolo do regime militar, DOI-CODI terá memorial às vítimas

O ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, visitou, no último dia 1º de dezembro, os prédios onde funcionou, de 1969 a 1982, o Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), em São Paulo.

O DOI-Codi foi o maior centro de repressão política do país durante a ditadura militar. Estima-se que por ali passaram mais de 7 mil presos políticos, quase todos torturados. Desses, pelo menos 60 deixaram o local já sem vida.

O ministro participou de uma roda de conversa com integrantes do projeto de pesquisa interdisciplinar, que vem sendo desenvolvido no espaço.

O objetivo do projeto é a implementação de um memorial para preservar a história das vítimas da repressão e é coordenado pela historiadora Deborah Neves.

Silvio Almeida também se reuniu com pesquisadores, promotores públicos, familiares de mortos e desaparecidos políticos, historiadores e integrantes do projeto de pesquisa de arqueologia que vem sendo desenvolvido ali.

Almeida também esteve com os ex-presos políticos Amelinha Teles, Adriano Diogo, Maurice Politi, Moacyr Oliveira Filho e Ivan Valente, atualmente deputado federal, para troca de informações sobre a política de memória no Brasil.

O ministro caminhou pelo antigo centro de repressão, conheceu onde ficavam as celas, as salas de tortura e o sobrado onde durante um tempo morou o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, que comandou o órgão de setembro de 1970 a janeiro de 1974.

Ustra residiu no local com sua esposa Maria Joseíta e a filha Patrícia, então com apenas 3 anos de idade.


DITADURA EM REVISÃO

Depois da campanha política presidencial de 2018, um fenômeno até então subterrâneo ganhou os holofotes, as novas mídias sociais e mais recentemente as escolas. Trata-se do revisionismo. 

Matéria da Agência Brasil de notícias (EBC) mostra o trabalho do pesquisador Pedro Zarotti Moreira, que desenvolveu o estudo em seu mestrado profissional na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

A ditadura militar brasileira e o nazifascismo são os temas mais contestados pelos revisionistas ideológicos, ou negacionistas, como são popularmente conhecidos, em escolas investigadas pela pesquisa de Pedro Zarotti intitulada “Tuas Ideias Não Correspondem aos Fatos: O Ensino de História e o Revisionismo Ideológico em Difusão na Atualidade.”

A pesquisa é uma das primeiras a investigar a ação dos revisionistas ideológicos dentro das escolas do ensino básico. Entre algumas ações dos revisionistas ideológicos está a atenuação do caráter deletério da ditadura militar brasileira, iniciada em 1964.

Para Zarotti, o aparecimento nas escolas do revisionismo ideológico nos últimos anos pode ser entendido a partir da confluência de vários fatores, entre eles a polarização política ideológica, presente há pelo menos 10 anos no país.

O avanço da internet e das redes sociais em uma arquitetura de bolhas, com pouco espaço para a pluralidade; e a chegada da direita mais radical ao poder também são fatores propiciadores do revisionismo.

Dá um certo verniz de credibilidade para o movimento porque quando você vê uma pessoa chefe do executivo difundindo uma fala revisionista, isso meio que legitima o movimento para aquela pessoa que está ali mais ou menos no meio do caminho, que é até uma direita mais moderada ou que está descontente com alguma coisa da situação, ou que não tem uma outra fonte de informação”, arremata Pedro Zarotti.

JB Reis

JB Reis

Militar da reserva, articulista da Revista Sociedade Militar. https://linktr.ee/veteranistao