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Porque o Egito e outros países árabes não estão dispostos a acolher refugiados palestinos de Gaza

por Rafael Cavacchini Publicado em 25/10/2023
Porque o Egito e outros países árabes não estão dispostos a acolher refugiados palestinos de Gaza

Enquanto palestinos desesperados na Faixa de Gaza tentam encontrar refúgio contra o bombardeio de Israel em retaliação ao ataque brutal do Hamas em 7 de Outubro, alguns perguntam por que razão os vizinhos Egito e Jordânia não recebe refugiados.

Os dois países, que são vizinhos de Israel em lados opostos e partilham fronteiras com Gaza e a Cisjordânia ocupada, respectivamente, responderam com uma recusa veemente aos pedidos de aceitar refugiados. A Jordânia, aliás, já possui inclusive uma grande população palestina.

Protesto pró-Palestina em frente à Casa Branca, Washington. Foto: Wikimedia Commons

O presidente egípcio, Abdel Fattah el-Sissi, fez seus comentários mais duros nesta quarta-feira, dizendo que a guerra atual não visava apenas combater o Hamas, que governa a Faixa de Gaza, “mas também coibir uma tentativa de pressionar os habitantes civis a migrarem para o Egito”. Para Fattah el-Sissi, isso poderia destruir a paz na região.

Semelhantemente, o Rei Abdullah II da Jordânia declarou algo parecido um dia antes, dizendo: “Não há refugiados na Jordânia, não há refugiados no Egito”.

A recusa dos dois países se deve ao medo latente de que Israel queira forçar uma expulsão permanente dos palestinos para os seus países e anular as exigências dos habitantes de Gaza para a criação de um Estado. O presidente egípcio também disse que um êxodo em massa expunha o país ao risco de trazer militantes para a Península do Sinai, no Egito, de onde poderiam lançar ataques contra Israel, colocando em risco o tratado de paz de 40 anos entre os dois países.

Temor de novo êxodo em massa

Na guerra de 1948, logo após a criação de Israel, cerca de 700 mil palestinos foram expulsos ou fugiram da região. Os palestinos referem-se ao evento como Nakba, que significa “catástrofe” em árabe.

Refugiados palestinos deixam a Galiléia em outubro-novembro de 1948. Foto: Cambridge University Press / Wikimedia Commons

Na Guerra dos Seis Dias, quando Israel tomou a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, mais 300 mil palestinos fugiram, a maioria para a Jordânia.

Os refugiados e os seus descendentes somam agora cerca de 6 milhões de pessoas, a maioria vivendo em campos e comunidades na Cisjordânia, Gaza, Líbano, Síria e Jordânia. A diáspora espalhou-se ainda mais, com muitos refugiados construindo suas vidas em países do Golfo Árabe ou até mesmo no Ocidente.

Grupo terrorista Hamas também preocupa vizinhos

Ao mesmo tempo, o Egito afirma que um êxodo em massa de Gaza traria o Hamas ou outros militantes palestinos para o seu território. Isso poderia ser sobretudo desestabilizador no Sinai, onde militares egípcios lutaram durante anos contra militantes islâmicos, chegando inclusive a acusar o Hamas de os apoiarem.

Atualmente, o Egito apoia o bloqueio de Israel a Gaza, desde que o Hamas assumiu o controle do território em 2007. Tanto Israel quanto o Egito controlam rigorosamente a entrada de materiais e a passagem de civis de um lado para o outro. Além disso, o Egito também destruiu a rede de túneis sob a fronteira que o Hamas e outros palestinos usavam para contrabandear mercadorias para Gaza.

Todavia, com a insurreição do Sinai em grande parte reprimida, “o Cairo não quer ter um novo problema de segurança nas mãos por conta desta região problemática”, declarou Riccardo Fabiani, Diretor do Projeto Norte da África do Crisis Group International. “A falta de clareza de Israel relativamente às suas intenções em Gaza e à evacuação da população é em si problemática”, declarou.

Há também protestos a favor dos israelenses pelo mundo aforo. Na imagem, protesto pró-Israel em Berlim. Foto: Wikimedia Commons

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Fonte: AP

 

 

Rafael Cavacchini

Rafael Cavacchini

Nascido na cidade de Itu, interior de São Paulo, Rafael Cavacchini é empresário, radialista, jornalista e ator. Apaixonado por arte, é ator de teatros desde 2013, participando em peças que vão de tragédias clássicas a musicais. É também radialista no programa “A Kombi Desgovernada”, sucesso em três estações de rádio desde 2015. Começou a escrever muito cedo, inicialmente por hobby. Mas foi apenas em 2011 que transformou o prazer em profissão, quando entrou para o quadro de jornalistas convidados da Revista SuplementAção. Em 2015, tornou-se colunista no Portal Itu.com.br e, no mesmo ano, jornalista convidado da Revista Endorfina. Foi escritor e tradutor do Partner Program do site Quora, uma rede social de perguntas e respostas e um mercado de conhecimento online, com sede em Mountain View, Califórnia. Sua visibilidade no Quora chamou a atenção da equipe da Revista Sociedade Militar. Faz parte do quadro da RSM desde fevereiro de 2023, tendo escrito centenas de artigos e reportagens.