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Retorno à Lua: Rússia na vanguarda da corrida espacial com missão Luna-25

por Rafael Cavacchini Publicado em 14/08/2023
Retorno à Lua: Rússia na vanguarda da corrida espacial com missão Luna-25

Apesar da guerra da Ucrânia e as consequentes sanções impostas pelo ocidente, Vladimir Putin está tentando trazer a Rússia de volta à vanguarda da corrida espacial.

Nas primeiras horas da manhã desta sexta-feira, a agência espacial estatal Roscosmos lançou a primeira missão lunar do país em quase meio século em uma jogada ambiciosa na luta para construir uma base na lua.

Modelo de um rover do programa Lunokhod soviético. O Lunokhod foi o primeiro de dois rovers lunares robóticos que pousaram na lua. Foto: Roscosmos

“Se conseguirem, será uma enorme conquista tecnológica e científica”, disse Tim Marshall, autor de “The Future of Geography” sobre a geopolítica do espaço. Marshall argumenta que um pouso russo bem-sucedido marcaria um grande passo nos planos de construir uma base lunar em parceria com a China até a década de 2030.

Água na Lua

A missão russa Luna-25 será enviada para explorar o polo sul lunar, onde cientistas acreditam que há um suprimento abundante de água presa sob o gelo na sombra perpétua das montanhas. Encontrar reservas de água é um requisito crítico para sustentar vida na lua com oxigênio respirável, água potável e até combustível de foguetes. Isso ajudaria as nações que desejam explorar o espaço a ir mais além no cosmos no futuro.

“O primeiro objetivo é encontrar água, confirmar que ela está lá… estudar sua abundância.”, disse Olga Zakutnyaya, do Instituto de Pesquisa Espacial da Academia Russa de Ciências em Moscou, sobre o objetivo principal da Luna-25.

Parceria Russo-Chinesa na exploração espacial

Mas simplesmente pousar com sucesso uma espaçonave no polo sul lunar rochoso, o que por si só já seria o primeiro, também provaria a Pequim que Moscou ainda tem algo a oferecer quando se trata de tecnologia aeroespacial de ponta. Os dois países já se comprometeram a trabalhar juntos para construir uma base lunar até a década de 2030. Pequim, no entanto, é o claramente o líder nesse quesito.

“Putin sabe que a Rússia é o parceiro menor no relacionamento com a China, inclusive no relacionamento espacial”, disse Marshall. O autor argumenta que a missão Luna-25 poderia sobretudo ajudar a reequilibrar a balança.

Do outro lado da divisão geopolítica, os Estados Unidos planejam enviar astronautas ao pólo sul ainda nesta década como parte de seu programa Artemis, apoiado pelo Canadá e países europeus.

Foguete de lançamento da Artemis 1, preparando-se para um teste geral antes do lançamento. Foto: NASA

Curiosamente, apesar da competição, a NASA não parece preocupada com a missão de Moscou.

“Não acho que muitas pessoas neste momento diriam que a Rússia está realmente pronta para pousar cosmonautas na lua no período de tempo de que estamos falando”, disse o administrador da NASA, Bill Nelson, durante um painel na terça-feira em resposta a Luna-25.

Nova corrida espacial

Apenas três países, Estados Unidos, China e União Soviética, conseguiram pousar espaçonaves na lua com sucesso. Ainda assim, apenas os americanos colocaram astronautas na superfície lunar.

Países como Índia, Japão e Israel tentaram e falharam. Novamente arriscando, a missão indiana Chandrayaan-3, que se traduz como “veículo lunar 3” em sânscrito, está programada para chegar à superfície no dia 23 de agosto desse ano. O objetivo também é explorar o pólo sul. Isso seria mais ou menos na mesma época em que o Luna-25 pousaria.

Chandrayaan-3 decolando da segunda plataforma de lançamento em Sriharikota. Foto: Organização Indiana de Pesquisa Espacial (GODL-Índia)

Pousar uma espaçonave no terreno montanhoso dos pólos ocultos da lua, no entanto, não é nada fácil.

“O polo sul tem muitas crateras e é muito rochoso”, disse Nico Dettmann, líder da Agência Espacial Européia, a ESA. “Esse tipo de desenvolvimento de tecnologia espacial levam tempo.”, disse Dettman.

O Luna-25 estava programado para incluir sistemas de câmeras de navegação da ESA como parte de um acordo de cooperação. No entanto, o plano foi descartado devido à invasão russa da Ucrânia. Pela mesma razão, descartou-se uma parceria para uma missão para Marte apelidada de ExoMars.


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Fonte: Politico

Rafael Cavacchini

Rafael Cavacchini

Nascido na cidade de Itu, interior de São Paulo, Rafael Cavacchini é empresário, radialista, jornalista e ator. Apaixonado por arte, é ator de teatros desde 2013, participando em peças que vão de tragédias clássicas a musicais. É também radialista no programa “A Kombi Desgovernada”, sucesso em três estações de rádio desde 2015. Começou a escrever muito cedo, inicialmente por hobby. Mas foi apenas em 2011 que transformou o prazer em profissão, quando entrou para o quadro de jornalistas convidados da Revista SuplementAção. Em 2015, tornou-se colunista no Portal Itu.com.br e, no mesmo ano, jornalista convidado da Revista Endorfina. Foi escritor e tradutor do Partner Program do site Quora, uma rede social de perguntas e respostas e um mercado de conhecimento online, com sede em Mountain View, Califórnia. Sua visibilidade no Quora chamou a atenção da equipe da Revista Sociedade Militar. Faz parte do quadro da RSM desde fevereiro de 2023, tendo escrito centenas de artigos e reportagens.