Contrato da Marinha com empresa ligada à espionagem foi articulado por ex-secretário de Bolsonaro

O colunista do Intercept, Paulo Motoryn, publicou na terça-feira, 19 de dezembro, que Marcos Degaut, ex-secretário de Produtos de Defesa do governo de Jair Bolsonaro, foi o articulador de um contrato da Marinha do Brasil com o Grupo Edge, conglomerado estatal de defesa dos Emirados Árabes Unidos. Posteriormente, Degaut assumiu como CEO da empresa na América Latina.
Durante seu período no governo, Degaut estabeleceu um “grupo de trabalho” entre o governo brasileiro e o Grupo Edge. Agora, na posição de CEO, ele está à frente dos resultados dessa parceria. A Siatt, empresa associada ao Grupo Edge, venceu uma licitação da Marinha para fornecer tecnologia de monitoramento e vigilância do território marítimo brasileiro.
Além da licitação vencida pela Siatt, o Grupo Edge, dos Emirados Árabes Unidos, também investiu pesado na Marinha do Brasil. O conglomerado aportou US$ 120 milhões para desenvolver, em parceria com a Marinha, um míssil antinavio de longo alcance.
Atualmente, a Marinha possui tecnologia para atingir alvos a até 70 km de distância. No entanto, com esse novo investimento, a ideia é desenvolver um modelo inovador capaz de alcançar um alvo em até 200 km. Esse novo míssil teria a capacidade de competir com o Exocet, um míssil antinavio fabricado pela empresa francesa MBDA.
O Intercept procurou a Marinha e o Ministerio da Defesa para questionar um possível conflito de interesses nessa relação. A Marinha negou qualquer influência de Marcos Degaut. Disse que a licitação para contratação da Siatt “foi pública e impessoal” e que “as empresas interessadas em participar do chamamento público, contido no D.O.U. de 18 de julho de 2023, precisavam apenas atender às demandas e requisitos”.
O Ministério da Defesa, por sua, vez, afirmou que Marcos Degault foi exonerado do cargo de secretário de Produtos de Defesa em 8 de agosto de 2022 e que, como o acordo com a Siatt e o Grupo Edge ocorreu após o período de 180 dias de quarentena recomendado a funcionários públicos da alta administração federal, “a situação não se enquadra no conceito de conflito de interesses, conforme art. 3, I, da Lei n. 12.813, de maio de 2013”.
O Grupo Edge foi associado a sistemas de espionagem, como o BeamTrail, o Digital14 e o DarkMatter, com capacidade de invadir redes e sistemas e utilizados por ditaduras para monitorar opositores.